De onde viemos?
m duas ocasiões na história do
Cosmos, a matéria que compõe o seu corpo esteve reunida no mesmo lugar - no big-bang e agora. Saiba como saímos de
lá e viemos parar aqui.
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O big-bang criou você, eu e os Deuses |
Agora, enquanto você lê esta matéria, uma incrível coincidência está
acontecendo. Pela segunda vez na história do Universo, esse exato conteúdo de
partículas e subpartículas, matéria e energia, que você costuma chamar de “eu”
está reunido exatamente no mesmo lugar do espaço.
A primeira vez foi há 13,7 bilhões de anos. E a organização de todos
esses elementos que faziam parte de você era bem diferente. Na verdade, tudo
estava na forma de energia – e misturado a todas as outras coisas que existem
no Universo. Eu, você e até mesmo todos os Deuses, éramos a mesma coisa,
condensados num amontoado absurdamente denso de energia. Tudo bem apertado,
concentrado num espaço mínimo – esse foi o instante imediatamente após o big-bang.
A grande explosão que deu origem a tudo não aconteceu num determinado
lugar. Rolou aqui, ali e em toda parte. É que todos os lugares também estavam
espremidos num ponto bilhões de vezes menor que uma cabeça de alfinete. E lá
estávamos nós e também os Deuses, embaralhados num mar de energia explosiva.
Logo, com todo esse amontoado, o Universo trataria de acabar com isso e nos
espalhar para todos os lugares possíveis – mas não sem antes ampliar todos os
lugares possíveis.
Até que pudéssemos assumir nossa forma atual, uma longa jornada teria de
ser percorrida. Essa é a história que você vai ler aqui. A sua história, do big-bang até agora.
Bem, se tivéssemos de resumir em uma única palavra tudo que sabemos
sobre o instante inicial do Universo, escolheríamos esta: nada. É como disse o astrofísico americano Carl Sagan sobre o big-bang: “Por que ele aconteceu é o
maior mistério que se conhece. Mas o fato de ter acontecido é razoavelmente
claro”. Quer dizer: sabemos com razoável precisão que, cerca de 13,7 bilhões de
anos atrás, aquela microcabeça de alfinete começou a crescer. Nisso o Universo
foi se diluindo. E uma parte daquela sopa de energia onde você estava esfriou,
assumindo uma forma mais familiar: a de matéria.
Essas primeiras partículas de matéria de que se tem notícia foram
batizadas de quarks. No Universo
atual, elas não existem soltas, porque outras partículas, chamadas de glúons, impedem que elas vivam sua vida
independentemente – os glúons são o superbonder
da matéria.
O Universo, porém, ainda fervia. Era tão quente por lá que quarks e
glúons se agitavam como pipoca na panela, e não existiam misturados. Viviam
separados num estado chamado de plasma de quark-glúon,
que chegou a ser criado por um pentelhésimo de segundo num acelerador de
partículas do Laboratório Nacional
Brookhaven, EUA, em 2005. Isso nos deu uma boa pista do que foi essa época.
E do que viria depois.
Conforme o Universo foi se resfriando, os quarks e os glúons começaram a
se entender. Então os primeiros começaram a se reunir, em trios, para formar os
muito mais conhecidos prótons e nêutrons.
Tudo isso aconteceu em mais ou menos 10 milésimos de 1 milésimo de
segundo. A essa altura, você, eu e também os Deuses, já éramos um amálgama de
prótons e nêutrons, misturados de uma forma indistinta – nada que realmente
desse para chamar de “eu”, ou de “nós”. Mas era um belo começo. E o próximo
passo era juntar esses prótons, nêutrons e elétrons na forma de átomos.
Tenha em mente que, durante todo o processo, o Universo continuava a se
resfriar e a se diluir (coisa que ele está fazendo até hoje). Cem segundos
depois do big-bang, então, quando o Cosmos atingiu uma temperatura mais
amena, de mais ou menos 10 milhões de graus Celsius), essa brincadeira de colar
prótons, nêutrons e elétrons passou a ser possível. Surgiam os primeiros
átomos. Primeiro, os de hidrogênio – forma atômica mais simples, composta de um
próton, solitário ou acompanhado por um ou dois nêutrons. E, rodopiando em
volta dele, um elétron (outra partícula que, como o quark, nasceu um pouco
depois da grande explosão).
Depois disso, já com um belo estoque de hidrogênio em mãos, o Cosmos passou a colar esses átomos uns
nos outros para formar o 2o elemento mais simples, o hélio, com dois prótons e
um ou dois nêutrons no núcleo. Em seguida deu para formar mais um pouquinho de
lítio, o 3º elemento, mas aí o Universo ficou frio demais para seguir com esse
processo de fusão nuclear. Saldo final: 300 segundos após o big-bang, o Cosmos tinha 75% de hidrogênio, 25% de hélio e umas pitadinhas de
nada de lítio.
A
última milha
Um Universo eternamente composto só de hidrogênio e hélio ia ser bem sem
graça. Não dá para criar vida (leia-se você, ou nós) com esses elementos.
Então, o Cosmos precisou dar um jeito. Ele criou as estrelas – pequenas
fábricas de novos elementos.
A melhor forma de imaginar uma estrela é pensar numa imensa bola de gás,
feita basicamente de hidrogênio, com umas pitadas de hélio. Ela surge a partir
de nuvens gasosas, que deviam ser bem abundantes logo no início do Universo.
Cabe à gravidade transformar as nuvens difusas em bolas compactas. E a
força gravitacional exagera na dose, de modo que o astro recém-nascido se torna
muito, muito denso. A pressão no interior dele atinge um ponto que leva os
átomos de hidrogênio a grudar uns nos outros, formando mais hélio. Esse processo
de fusão nuclear produz muita energia, e é isso que faz a estrela brilhar. Mas,
se a função primordial da estrela é formar hélio a partir de hidrogênio, então
qual é a diferença entre uma estrela e aquele cenário pouco após o big-bang? Bem, a vantagem da estrela é
que ela não está se diluindo a passos largos, como todo o Universo do lado de
fora – assim o processo de fusão pode seguir por milhões (ou bilhões) de anos.
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A gravidade 'exagera na dose' e criou estrelas,
de onde viríamos |
Apertada pela gravidade, a estrela passa muito tempo fabricando hélio. O
mais interessante, no entanto, é o que acontece a seguir. Quando o hidrogênio
no núcleo estelar se esgota, ele se comprime mais, e a pressão se torna
suficiente para usar o hélio como matéria-prima para a criação de elementos
ainda mais pesados. Foi assim que nasceram os átomos grandes, com muitos
prótons no núcleo, como o oxigênio e o carbono.
Claro, de nada adianta ter todas essas pequenas jóias da vida (o
oxigênio, com o hidrogênio, forma a água, e o carbono, por sua vez, é a base
para todas as moléculas complexas ligadas ao metabolismo biológico) se elas
estão inacessíveis, trancafiadas no núcleo de uma estrela.
Felizmente para nós, o Universo tinha mais uma carta na manga: chega um
momento em que o centro da estrela se comprime tanto que ela não aguenta mais.
E dá sua estrebuchada final: o núcleo colapsa por conta do próprio peso e, num
efeito rebote, o astro explode violentamente, expulsando suas camadas
superiores. Esse fenômeno, que chamamos de supernova, espalha elementos pesados
(a matéria-prima da gente) pelo espaço. Quer dizer: cada pedacinho que agora
forma o seu corpo foi forjado dentro de várias supernovas Universo afora.
Bom, essa mesma gravidade que, mais hora menos hora, mata as estrelas
também agiu em escalas maiores, reunindo enxames estelares em galáxias, e essas
galáxias em aglomerados, e os aglomerados em superaglomerados, deixando o
Universo parecido com uma teia de aranha... mas essa é uma outra história.
Estamos aqui para dizer como você, eu, e os Deuses, vieram à existência, então
vamos, sem mais delongas, prosseguir em nosso caminho.
Até este momento falamos de apenas 1 bilhão de anos após o big-bang. As galáxias já existem, as
primeiras estrelas já explodiram em supernovas, e o Cosmos está ficando cada vez mais rico em átomos complexos.
Concentremo-nos então numa única galáxia espiral, que hoje convencionamos
chamar de Via Láctea. Avançando a
fita mais 8 bilhões de anos, vamos descobrir que, na periferia dessa estrutura,
uma nova estrela está se formando a partir de uma nuvem de gás. Era uma nuvem
tênue para os padrões cósmicos, sem muita massa. Resultado: a estrela não se
agigantou tanto, e o resultado foi um astro medíocre – de porte médio para
pequeno. Esse foi o nada emocionante nascimento do Sol. (Concordemente, em
alguma estrela nas proximidades da nossa, acontecia o mesmo . . . e assim, em
bilhões de outras estrelas, espalhadas em todas as galáxias, muito
possivelmente aconteceu exatamente o mesmo!)
Ao redor dele, do nosso Sol, um disco composto de gás e poeira, já
devidamente enriquecido com elementos pesados, acabou produzindo 8 bolotas mais
parrudas que hoje chamamos de planetas. É numa dessas bolotas, a 3ª a contar do
Sol, que a nossa história deu outro grande salto: fomos promovidos de poeira
estelar a formas de vida. Saiba que essa mesma história já foi contada pelos
Deuses, onde vieram à existência. Falo que ‘já foi contada’ por que, como
podemos deduzir, os Deuses estão a anos luz de evolução à nossa frente.
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Todo sistema planetário vem à existência à partir
dos restos de estrelas. É por isso que tanto nós, quanto
os Deuses, somos "poeira das estrelas". |
Só que não foi fácil. A própria Terra não era nem de longe o lugar
agradável que é hoje. Nosso 1o bilhão de anos foi marcado por surras memoráveis
– o sistema solar recém-nascido tinha muito mais sujeira, e vira e mexe algum
asteróide trombava aqui. Um desses choques, para você sentir o drama, foi com
um objeto do tamanho de Marte. A pancada foi tão violenta que jogou bilhões de
toneladas de matéria na órbita terrestre. A gravidade logo reuniria esses
destroços numa bola de pedra com 1/4 do tamanho da Terra. Uma bola que agora
chamamos de Lua, a maior testemunha daqueles tempos turbulentos. Esta é uma das
duas melhores teorias para a história da nossa vizinha – a “fiel testemunha no céu.” - Sal 89:37 - TNM.
A despeito dessa fase hostil de pancadaria cósmica, que durou até mais
ou menos 3,9 bilhões de anos atrás (ou quase 10 bilhões de anos após o
big-bang), a Terra foi um planeta que deu sorte, pois nasceu no lugar certo.
Por sua distância do Sol, é um mundo que não fica nem muito frio nem muito
quente. Isso quer dizer que uma substância muito especial, chamada água, pode
existir numa forma muito especial, o estado líquido. Por causa disso, nosso
planeta foi contemplado com as condições de preparar o grande sopão que daria
origem à vida. Mas, para cozinhar seres vivos, não basta uma sopa qualquer – é
preciso uma sopa de letrinhas. Não sabemos exatamente como é o mundo dos
Deuses, motivo que nos faz imaginar vários mundos diferentes – desde mundo
espiritual a “universos paralelos” onde possam existir. Mas a probabilidade é a
de que eles existiram a partir do início deste universo mesmo e que vivam
nalgum planeta real mesmo.
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Condensado e reorganizado da
matéria do irmão cientista Salvador Nogueira.